Nesse dia estava calma, amável, atenciosa, sorridente,
até fez questão de levar-lhe café no sofá,
enquanto ele assistia o jornal global.
Deu-lhe um beijo na testa, desejou-lhe boa noite
e foi deitar-se.
Pensou ele: Será que estou com alguma doença grave
e não estou sabendo?
Sua mulher a muito não se comportava tão generosamente
para com ele.
Desse modo eles iam levando o casamento.
Fatigosos, apáticos, sem vida e sem criatividade.
Então foi para o quarto.
No que abriu a porta, encontrou-a só de camisola.
Até aí, tudo bem se a camisola não fosse
velhíssima e curtinha.
Sem saber porque, seu coração disparou,
um suor repentino lhe brotou na testa.
Sinais vitais foram notados.
Ao deitar-se, sentiu a mão pequena e suave
deslizar-lhe pela coxa já desacostumada,
num ritual predestinado e preciso
despertando dentro dele o sujeito que há tempos
permanecia adormecido.
No dia seguinte, ela lhe preparou um café da manhã
pra lá de exótico e reforçado.
O pior, ou melhor, foi que ela não pronunciou uma palavra.
Só sorriu e passou-lhe as mãos nos cabelos.
Então foi trabalhar, mas antes passou pra ver o que tinha
na caixa do correio.
Deparou-se com um pequeno embrulho, abriu-o
cuidadosamente para não danificá-lo.
Era uma segunda edição do livro "Como enlouquecer seu
marido na cama".
Surpreso, ou melhor, estupefato, colocou-o no lugar de antes.
A princípio, achou tudo aquilo muito indecoroso,
mas logo desistiu de interferir no jogo.
Em poucos dias foi necessário que trocassem a cama.
Júlio Mesquita |
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