A gente se vê, mas não no local combinado, não no local de sempre. A gente se vê além do verde do mar, do clarear do dia, além dos copos de vinho. A gente se vê além das flores vermelhas com miolinhos amarelos, além das lágrimas esgotadas, já secas, além dos beijos caramelizados no cinema. A gente se vê, além daqueles sorrisos, com aqueles acabamentos incríveis. A gente se vê além dos gestos, dos toques, dos abraços afetuosos e apertados. A gente se vê além das sombras onde empacam as luzes. A gente se vê, além do cappuccino noturno, além das estrelas mais antigas. A gente se vê além dos acasos aleatórios e autoritários do destino, além dos sonhos acumulados, construídos e reconstruídos, indestrutíveis. É lá que a gente se pega, bem longe da multidão, além da imaginação. Na saudade. A gente se vê na saudade. Não confortàvelmente, a vontade. A gente se vê na mais profunda saudade, nas artimanhas da vida, além dos detalhes nostálgicos da poesia. No paraíso. A gente se vê, além. Muito além da vida.
Cecília Fidelli. |